"onde a ignorância é uma bênção, é tolice querer ser o espertão".Que pra mim é mais ou menos o resumo da Internet. Não sou um cara muito curioso. Mal sei quem é Kim Kardashian, e tudo o que sei juro que se resume ao seguinte: "sei que é a mulher do Kanye West. É filha dum magnata. Participava dum reality show na TV (mas não tenho certeza). E rolou uma sex tape, mas não faço ideia com quem". Como um jornalista (COF, COF COF) poderia descobrir fácil tudo sobre essa menina graças a Internet (ou ao Wikipedia, que é uma ótima ferramenta, não importa o quanto digam o contrário). God fuckin bless the Internet, não me entendam mal, ela é um enorme poço de conhecimento. Úteis e inúteis, e a maioria dos meus são bem inúteis. Porém, creio que chegamos no maior pico de ninguém saber mais distinguir isso.
Vi essa foto da Kim Kardashian e pensei: "bonita bunda". Sei lá, na minha profunda ingenuidade achei que era o único comentário possível. Ou talvez "não curti essa bunda", caso fosse esse o veredito. Próximo assunto, próximo cachorro muito doido no Youtube, meme daora, essas coisas. Mas após um tempo no Facebook já passei olhos em quase todo tipo de desdobramentos sobre a tal foto. Textos feministas, textos de como ela entende a Internet mais do que ninguém, muitos textos, textos demais. Parece-me que não existe mais um único assunto internético que não esteja passível a análises mais profundas.
Mesmo que seja só uma bunda grandona, com um óleo maneiro.
(Bom, eu sei que alguém nesse exato instante pode estar espumando que não se trata apenas duma bunda, mas de toda uma postura crítica perante a utilização do corpo feminino zzzzzzzzzzzzzz. Yeap, como eu disse. Análise profunda demais. É só uma bunda. Com um óleo maneiro).
E veja bem que sou um entusiasta do conhecimento inútil. Morreu ontem o poeta Manoel de Barros e não sei quem ele é. Não sei coisas inúteis, como essa Kim, na mesma medida que não sei coisas "úteis" e intelectuais, como esse que era o maior poeta do Brasil, segundo a timeline.(Até li alguns poemas que o pessoal compartilhou e meio que não gostei. Não é mesmo a minha. Desculpa aí, Mário Quintana). Talvez pelo fato de a Internet não ter feito parte de mais da metade da minha vida, não tenho a ansiedade em saber todas as coisas. Nunca discuto coisas que não sei bulhufas. Quando me perguntam sobre determinadas coisas que eu não sei, eu respondo "não sei" ou "não tô ligado". Mesmo que eu pudesse bancar o esperto com um simples clique.
(Como qualquer um, já tive de enrolar nas provas do colégio ou fazer de conta pro chefe que sabia algo que não entendia picas, mas isso é uma completa outra história. É sobrevivência, não espertice.)
Ninguém morre se não souber o que raios é "Beijinho no Ombro". Ao preferir saber, não existe um Sindicato de Teses Profundas esperando pelo seu depoimento sobre a importância de Valesca Propozuda Como Veículo de Massa e Democratização do Funk. A Internet não é um TCC.
Onde a ignorância é uma bênção, é tolice ser o espertão.
Sobe som na música dos Ramones, por favor.
via VOID